quarta-feira, 18 de março de 2009

Redes Sociais atuam como filtro de informações

Estava ontem conversando com a Cássia sobre tudo o que temos lido sobre as redes sociais - e olha que é muuuita coisa. Nossa frustração ficou muito clara quando pensamos na profundidade de tudo que é falado. Faltam conceitos novos, dicas diferentes, embasamentos teórico, cases... Enfim, é tudo muito superficial.
Além disso, as redes são sempre citadas como um todo, mas são os blogs que ainda ocupam um espaço muito mais significativo nas pesquisas.E as outras redes? Com a fama que o Twitter está ganhando nos últimos tempos - foi até capa da revista Época - acredito que ele passe a ter mais espaço nesses estudos.

Lendo este artigo da Raquel Recuero, me deparei com um conceito novo! Não novo em si, mas novo no universo das redes.
Raquel, explica no artigo publicado no site Jornalistas da Web, como o conceito de gatekeeper tem se aplicado nas redes sociais!


Redes sociais atuam como filtro de informações

Por Raquel Recuero(*)

Uma das funções que está cada vez mais aparente na apropriação dos sites de redes sociais é seu uso como filtro de informações.As redes sociais conectadas através da Internet começam, cada vez mais, a funcionar como uma rede de informações, qualificada, que filtra, recomenda, discute e qualifica a informação que circula no ciberespaço.

A discussão sobre a função do gatekeeper remonta à década de 40 e 50, principalmente pelo trabalho de Kurt Lewin, que apresentou a proposta da associação do fluxo de informações em um dado sistema com a presença de determinados filtros (gatekeepers), que permitiriam ou impediriam a circulação de determinadas informações. No jornalismo, a idéia do gatekeeper é relacionada também com a comunicação de massa e o poder sobre a informação deixado a cargo dos mídia, mas perde força. Com a complexificação e a ampliação das conexões entre os atores nas redes sociais, principalmente pela Internet, que proporcionou um canal que está sempre aberto para o tráfego de informações, a discussão sobre o gatekeeping começou a beirar a superfície novamente.

Um dos primeiros motivos é o elemento complicador da Internet como meio: a supervia de informações. A Rede proporciona uma imensa quantidade de informações disponíveis e acessíveis, que correm pelo ciberespaço. Como uma releitura da gigantesca biblioteca de Babel Borgiana, é um universo de informações que se tornam invisíveis pela dificuldade de organização e hierarquização, pela dificuldade de encontrar o que é relevante. Quando tudo é acessível, pouco é relevante.

Neste universo, as redes sociais parecem organizar-se como filtros, no sentido de auxiliar na organização dessas informações. Como? As redes passam a eleger e atuar como gatekeepers. Através da seleção e da publicação de informações especializadas e localizadas, os atores sociais estão construindo relevância, a partir de valores sociais como reputação. Nichos de pessoas interessadas em determinados assuntos vão produzir informações relevantes, detalhadas e novas. Esses atores vão filtrar as informações do ciberespaço e publicá-las, para quem quiser ouvir/ler. Através da escolha de seus próprios gatekeepers, os demais atores vão construir uma leitura focada das informações que lhes são importantes. Essa leitura é assim, personalizada, através da escolha de suas próprias fontes informativas.

Vários exemplos dessas atuações já foram expecificados pela literatura. Mas além do jornalismo cidadão ou participativo, construído pela ação dos atores sociais, o papel de gatekeeper a que me refiro parece ser ainda mais amplo. Quando um determinado ator social seleciona sua lista de leituras de feeds, por exemplo, está filtrando as informações a partir de outros filtros. E se as republicar em outras ferramentas, também será, ele mesmo, um filtro para os demais. O papel da rede social vai ainda mais longe: Além de filtrar, ela qualifica, complementa, discute. Uma informação que é passada adiante no Twitter, por exemplo, raramente o é sem uma qualificação, um julgamento de valor ou observação daquele que a passa. O próprio “retweet” é um instrumento que qualifica uma informação, lida e considerada relevante pela rede. Mesmo um feed que é repartido com a rede social é valorizado. Trata-se assim, de uma nova estrutura informacional, onde o trabalho de filtragem de informações é realizado pelos próprios atores para os próprios atores sociais. Cada informação pode ser trazida a luz, desconstruída, discutida, repassada e debatida por ação dessas redes, em uma dimensão completamente nova e em escala quase planetária.

Um dos grandes questionamentos que permeia esta mudança é, justamente, seu impacto na mídia tradicional e no jornalismo. Não sabemos bem, ainda, como essas redes poderão atuar junto aos veículos informativos tradicionais. Mas sabemos que uma grande parte da informação que começa a ser veiculada e considerada relevante pelas redes sociais offline está vindo dessa efervescência informacional dos espaços online e dos novos gatekeepers.

*Raquel Recuero é doutora em Comunicação, professora e pesquisadora da Universidade Católica de Pelotas e do CNPq e consultora em mídias sociais. Mantém o blog Social Media.



Nenhum comentário:

Postar um comentário